quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Sessões livres na ludoterapia

 
 
Deve-se dispor de jogos, os mais diferentes possíveis (dama, senha, jogo da memória). Nas sessões de psicoterapia, todas as questões existenciais devem ser tratadas: a escolha, a liberdade, a morte, a angústia.
 
 
 
Cada criança vai expressar o seu modo de ser e o terapeuta vai acolher qualquer tipo de expressão: agressivo, hiperativo, submisso, esnobe, tímido, calado. Um cliente esnobe, inteligente, por exemplo, que leva muitas charadas para sua terapeuta resolver e se diz o máximo, pois só tira nota dez no colégio, deve ser compreendido pelo terapeuta. Não cabe a este sentir hostilidade ou achá-lo metido ou ainda pensar em dar uma charada que ele não possa responder.
 
 
 
Outro exemplo, como de um cliente hiperativo, que não pára, embora dê muito trabalho deve ser compreendido na sua forma de expressão. Se assim não fosse, não estaria necessitando de ajuda. Quando a criança ou a família vai ao consultório é óbvio que ela está vivendo um processo de inautenticidade, pois se ela estivesse bem, não precisaria estar ali.
 
 

Cada um tem o seu significado frente ao mundo e é o próprio sujeito quem vai explicitá-lo. Cabe ao psicoterapeuta estabelecer o vínculo. A relação deve se estabelecer através da confiança e da aceitação do cliente como ele se revela: agressivo, tímido, hiperativo. Na medida em que o terapeuta o aceita como ele é, vai-se estabelecendo um vínculo de confiança em que a criança vai se sentindo aceita.
 
 
 
A observação durante o processo de ludoterapia é de suma importância, pois permite ao terapeuta levantar dados acerca de todo o estilo de ser da pessoa, a forma como ela se relaciona com o mundo, as  suas dificuldades e seus recursos.
 
 
 
O estilo de trabalho pode estar afetando o desempenho escolar, como por exemplo, uma criança que tem dificuldades de aprendizado e que apresenta um estilo de trabalho do tipo ensaio-erro. Aí está a dificuldade dela: não analisa a situação para resolver. Perde muito tempo, não tendo tempo hábil para resolver as tarefas escolares.
 
 
 
O processo de atenção e de concentração deve ser observado durante a sessão, por exemplo, através do jogo da memória, das leituras, da realização de jogos, dentre outros.
 
 
 
A memória vê-se através do jogo da memória e de fatos ocorridos em sessões anteriores. A ansiedade é verificada em diferentes situações, tanto frente ao novo, quanto em momentos em que a criança vivencia constrangimentos. A coordenação motora pode ser vista durante as atividades com jogos de montar.
 
 
 
A forma como lida com as diferentes situações sociais revela se a sua maturidade mostra-se adequada à sua idade cronológica. Isto é muito bem observado na forma como resolve situações cotidianas que lhe são propostas.
 
 
 
A expressão da afetividade e dos sentimentos ocorre durante todo o processo lúdico, seja na relação com o psicólogo, seja nas situações de frustração frente à realização de alguma atividade.
 
 
 
No grafismo e nos testes expressivos tem-se a oportunidade de observar a representação gráfica da criança. Quase toda criança gosta de desenhar. Quando ela brinca, quando ela desenha ou pinta, o terapeuta vai observando o seu grafismo. Pode-se observar também que no processo psicoterapêutico o grafismo vai evoluindo, os bonecos vão se tornando cada vez mais perfeitos, os detalhes vão ser cada vez mais evidenciados, o traçado vai ganhando uma forma.
 
 
 
A criança muitas vezes começa a ludo desenhando muitos círculos, que são o traçado mais primitivo e caracteriza a imaturidade emocional, perceptiva e motora da criança. Na medida em que se dá o prosseguimento do trabalho, vai se percebendo a evolução do traçado. O psicólogo vai acompanhando a evolução do grafismo e a forma de expressão da criança.
 
 
Se, no início ela usar apenas uma cor, isto pode indicar uma limitação no mundo de possibilidades, pois entre as diferentes cores que ela pode escolher, ela escolhe apenas uma. Ela se coloca no mundo numa posição de restrição. Não vê todas as possibilidades. Na medida em que ela vai ampliando, usando mais cores, vai mostrando que já pode lidar com o mundo considerando todas as possibilidades ou mais possibilidades que o mundo lhe oferece.
 
 
 
Os testes podem ser utilizados como recursos terapêuticos, como quando se quer mobilizar algum sentimento. Pode-se pedir que a criança desenhe a sua família como objetos ou animais. É um recurso utilizado para se trabalhar a dinâmica familiar. A criança pode, por exemplo, desenhar o pai como um palhaço e o terapeuta pode intervir: “interessante, quando você desenhou seu pai, se lembrou de um palhaço. O que existe em seu pai que faz você lembrar um palhaço?”
 
 

- Ah, você desenha o seu irmão e lembra de um jarro.
- É, nele ninguém pode tocar, ele é inatingível. Minha mãe é um rádio, porque não para de falar. Quando ela fala todo mundo tem que calar a boca.
 
 
 
A criança vai mostrando os significados que cada pessoa da família tem para ela, como se relaciona com estas pessoas e qual a sua percepção da estrutura familiar.
 
 
 
O teste de apercepção temática para crianças – CAT é um teste infantil que mostra situações com animais ou com pessoas. A primeira gravura mostra a sombra de uma galinha com três pintinhos  comendo. É apresentada esta figura e propõe-se à criança que invente uma história.
 
 
Na medida em que a criança conta a história, o terapeuta vai trabalhando toda a questão familiar. O terapeuta deve estabelecer uma relação de ajuda. Então, se a criança precisar de recursos para poder se mobilizar no sentido de despertar seus sentimentos, o psicoterapeuta deve trazer esses recursos.
 
 
 
No existencialismo, a técnica é um recurso que vai facilitar o processo, mas não é o fim, é algo que vai possibilitar a abertura.
 
 

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