A atuação do psicólogo muitas vezes constitui-se numa arte muito mais do que numa técnica. Este aprendizado ocorre na medida em que há a experiência. Os aprendizes de ludoterapia acabam por passar por momentos difíceis, em que se separar da forma como lidam com o cotidiano para assumir uma postura de psicoterapeuta torna-se uma tarefa árdua.
É comum, em psicólogos inexperientes, ocorrerem alguns deslizes, tais como, entrar em competição com a criança que assume no mundo uma postura autoritária, levando o psicólogo a imbuir-se do lema: “vamos ver quem é que manda!”. Agir desta forma implica em prejuízo do processo. Neste contexto não há lugar para disputa, a relação deve se estruturar como de ajuda. O psicólogo atua como facilitador que junto com a criança cria condições de crescimento num ambiente que lhe permita no brincar a expressão dos seus significados.
No início pode ocorrer que o terapeuta tenha dificuldade em dar limites à criança. Com frequência, a criança opõe-se ao fato de ter que ir embora, ao término das sessões. Os limites têm que ser estabelecidos e trabalhados com a criança.
Outra questão à qual o psicólogo deve estar atento é a curiosidade: psicólogo nenhum deve ser curioso, pois, se assim for, não vai estar atento ao outro, estará atento a si mesmo.
Não se faz necessário insistir nos porquês, hábito bastante frequente nos novatos. Este tipo de questionamento muitas vezes acaba por irritar a criança, que muitas vezes reage dizendo: “tia, para de perguntar o porquê” ou “você pergunta muito”. O psicólogo deve sempre continuar o processo na linha que a criança conduz. Ao invés de ficar perguntando: “mas por que você disse isso?” ou “mas por que você prefere esse jogo?”, o psicólogo deve ir junto com a criança: “Ah, sim, você escolheu esse jogo", e deixá-la continuar procedendo sobre o jogo da forma que ela própria escolheu.
O treinamento da épochè faz-se necessário para que o psicoterapeuta atue de uma forma própria que não se confunda com a vivência cotidiana. Através da ação, do brincar, por exemplo, a criança vai expressando toda a sua hostilidade e o terapeuta vai criar um ambiente permissivo para que ela externe esses sentimentos. Não vai dizer para ela que em pai não se bate.
Se a criança, neste contexto, quiser bater no pai, ela o fará. Essa forma de atuar vai diferenciar o psicólogo das pessoas comuns. As pessoas comuns vão dizer: “o que é isso? Seu pai é tão bonzinho para você”, ao psicólogo no entanto caberá a compreensão desta expressão.
A expressão dos sentimentos é muitas vezes ambígua e contraditória. Ora sente culpa, ora se sente ódio. A nós terapeutas cabe remover a culpa para que o sentimento de origem apareça espontaneamente. Com culpa há repressão dos sentimentos.
Portanto, alimentar a culpa é terminantemente proibido no processo terapêutico. As intervenções do terapeuta deverão mobilizar os sentimentos de forma que estes apareçam através do brincar, da ação e consequentemente pela linguagem. Para tanto faz-se mister que o psicoterapeuta mantenha “as orelhas em pé e os olhos abertos”.
Fonte: Fenômeno PSI
Fonte: Fenômeno PSI
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