quarta-feira, 12 de março de 2014

"Quando o ouvido dói..." - Otite, Linguagem e Aprendizado: Correlações.

Segundo o Jornal de Pediatria, 90% das crianças têm pelo menos um episódio de otite média antes de completar cinco anos de idade, 20 a 30% das crianças menores de três anos de idade apresentam otite média aguda como complicação de uma "Infecção de Vias Aéreas Superiores" (IVAS). Confira mais informações!
 
O papel de vários fatores predisponentes está devidamente reconhecido, entre eles alguns modificáveis por nós, como a entrada precoce nas creches, o desmame prematuro, o refluxo gastresofágico não identificado, a posição incorreta na mamada, alergias ou gripes "mal curadas" e a automedicação, por exemplo.
 
 
 
A Otite Média Recorrente (OMR) e a Otite Média Secretora (OMS) são a principal causa de perda auditiva leve e moderada na infância. A presença de secreção no ouvido médio acarreta dificuldade de transmissão do som (hipoacusia de condução ou de transmissão), que costuma normalizar quando há cura do processo.

A secreção no ouvido médio costuma provocar perdas auditivas leves, podendo-se encontrar crianças com limiares auditivos em torno de 38 dB. Com esse nível de hipoacusia, as vogais são ouvidas claramente, mas algumas consoantes podem não ser ouvidas. Esse tipo de perda não provoca problemas em adultos ou crianças que já adquiriram a fala, mas, se for crônica ou recorrente, pode acarretar uma discreta dificuldade na aquisição da linguagem em crianças em que esta não esteja estabelecida. Os pais devem ser orientados a chamar a atenção da criança para que esta olhe para eles antes de começarem a falar, e fazê-lo mais alto e mais próximo do que o habitual.

A criança com OMR apresenta flutuação da audição. A audição piora durante o episódio de otite média aguda e melhora quando ocorre a sua cura. A otite média secretora caracteriza-se por ser assintomática, isto é, não provocar febre ou otalgia, mas é acompanhada de perda auditiva leve ou moderada. Além da perda auditiva, as crianças com otite média secretora podem também apresentar distúrbios do equilíbrio, tais como quedas frequentes e tendência a bater acidentalmente nas paredes ao caminhar. Algumas delas sentem-se inseguras para andar de bicicleta ou dormir no escuro, por exemplo.

É importante que todo o profissional que trabalhe com crianças esteja atento para a possibilidade do problema otológico, pois a criança, ao contrário do adulto, pode passar meses com secreção no ouvido médio sem apresentar queixas. O lactente costuma apresentar atraso na aquisição da fala e demora para começar a caminhar. No ambiente escolar, tanto os pais quanto os professores queixam-se de desatenção e agitação.
A criança com perdas auditivas leves e moderadas costuma fazer trocas de alguns fonemas na fala (dislalia): “t” por “d”, “f” por “v”, “p” por “b”, “q” por “g”. Muitas destas crianças, principalmente se estão em fase de alfabetização, apresentam trocas na escrita, durante o ditado na aula. Este tipo de aluno costuma ser desatento na escola, porque tem dificuldade de ouvir a professora, quando esta não está próxima, tendo mais facilidade de escutar o colega ao seu lado. A mãe relata que ele não atende quando é chamado e ouve o aparelho de som, ou a televisão, alto demais.

A otite secretora que não curar com o tratamento usual para otite média e persistir por mais de três meses é passível de correção cirúrgica que consiste na miringotomia, aspiração das secreções existentes no ouvido médio e colocação de tubo de ventilação. Este mesmo procedimento está indicado para aquela criança que apresentar mais do que três episódios de otite média nos últimos seis meses, principalmente, se ela está na fase de aprendizagem da fala ou no primeiro ano escolar.

Há estudos que mostram relação entre otite média e dificuldades de aprendizagem, como o de Luotonen e colaboradores, na Finlândia, que, num trabalho retrospectivo realizado em 1.708 escolares com nove anos de idade, que haviam apresentado Otite Média Recorrente (OMR) até os três anos, constataram que as meninas apresentavam dificuldades em matemática e concentração na sala de aula, enquanto os meninos tinham mais dificuldades na leitura e atividades orais. Não foi encontrada relação entre otite média recorrente após os três anos de idade e aprendizagem. Concluíram que OMR antes dos três anos de idade tem consequências adversas a longo prazo, mesmo quando tratadas.
 
 
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Fonte: Artigo "Otite Média Aguda e Secretora", publicado no Jornal de Pediatria em 1998.
 
 
 

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