segunda-feira, 3 de junho de 2013

TDAH em Adultos

 
Se a apresentação do TDAH na infância em geral é clara, com as conhecidas manifestações de inquietação motora, dificuldades de atenção nas aulas e na realização das tarefas escolares, além das falhas no controle dos impulsos, o mesmo não se pode dizer da apresentação do transtorno na idade adulta.
 
 
 Entre os adultos ficam mais evidentes as imperfeições das chamadas funções executivas, entendendo-se por esse conceito um conjunto complexo de funções de planejamento, organização e execução de tarefas visando a uma meta mais adequada no futuro de preferência a uma resposta imediata, com ganhos menores no presente.
 
 
 
Não bastasse o transtorno no adulto ser um quadro menos evidente em consequência dessas modificações dos sintomas, nos adultos o problema torna-se ainda mais difícil de identificação requerem do profissional uma maior perícia e familiaridade com as formas de expressão do TDAH por duas outras razões.
 
 
Elas são: de um lado, os problemas emocionais e de relacionamento comuns nessas pessoas, e de outro lado os diversos transtornos (comorbidades) que aparecem associados ao TDAH com uma frequência muito maior que entre as crianças.
 
 
Drauzio – Você recebe um adulto que se queixa de ser muito distraído e que isso está atrapalhando sua vida. No entanto, o problema passou despercebido na infância e adolescência. Como você encaminha o diagnóstico nesse caso?
 
Mario Louzã – Essa é uma situação bastante comum. Há pessoas com déficit de atenção e hiperatividade que passam a vida toda sem terem sido diagnosticadas. Dá para imaginar quantos obstáculos precisaram vencer para chegar à universidade, por exemplo?
 
Na verdade, as queixas dos adultos são as mesmas das crianças: distração, dificuldade para concentrar-se, baixo rendimento no trabalho, impulsividade. Agem sem pensar e depois se arrependem do que fizeram.
 
O primeiro passo para o diagnóstico nessa faixa de idade é levantar uma história e tentar obter o máximo possível de dados sobre a infância da pessoa. É importante saber se, na escola, a professora reclamava de sua indisciplina, se era desorganizada, apresentava lições mal feitas, tinha os cadernos soltos, bagunçados e o material em desordem.
 
Nem sempre é fácil conseguir tais informações. Às vezes, a própria pessoa não tem lembrança clara de como eram as coisas. Uma saída é recorrer a informantes que lhe sejam próximos. Se os pais estão vivos, podem ser fonte importante de consulta.
 
Para o diagnóstico, levam-se em conta também as queixas atuais: o trabalho que não rende, a dificuldade para concentrar-se na leitura de um texto mais longo ou realizar as tarefas do dia a dia, o incômodo por ficar sentada numa reunião mais prolongada ou monótona, a dificuldade para assistir a uma aula na faculdade ou a um curso que exija concentração e permanência numa posição constante. Tudo isso somado ao fato de que se esquece dos compromissos e de pagar as contas. Delinear esse conjunto de dados possibilita reconhecer um quadro de déficit de atenção e hiperatividade no adulto.
 
 
 
Drauzio – Esses dados que você citou são queixas que se ouvem muito no mundo moderno. As pessoas reclamam que não rendem no trabalho, não se concentram porque os estímulos são muitos e não têm paciência para reuniões prolongadas. Como profissional, o que lhe permite estabelecer a diferença entre o comportamento que resulta das atribulações da vida e o que é realmente patológico?
 
Mario Louzã – Existem de fato alguns casos que estão no limite entre o que seria, digamos, o esperado para a população adulta no momento e o patológico que exige tratamento. Vale destacar que, no adulto, a dificuldade e as queixas vêm da infância. Mais velho, quando o quadro da doença é bem definido, ele se compara com seus pares e percebe que os colegas fazem o mesmo trabalho na metade do tempo, não esquecem a maioria dos compromissos, não atrasam. Já ele é um atrasado contumaz, um desorganizado. A conta está em cima da mesa, mas ele se esquece de levá-la e perde o prazo do pagamento. Não são coisas que acontecem de vez em quando. Acontecem sempre e passam a sensação de fracasso constante, de rendimento inferior à real capacidade de produzir.
 
 
 
 
 
 

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