Além de uma vida saudável, a prática esportiva é mestre em desenvolver habilidades socioemocionais, como disciplina, responsabilidade e trabalho em equipe - importantes para o sucesso escolar e para a vida. Confiram!
No esporte, é preciso se dedicar, dar tudo de si, esperar o melhor e se preparar para o pior. É por isso que muita gente costuma dizer que o esporte é uma grande metáfora da vida e que a prática esportiva vai muito além de campos e quadras.
A vivência esportiva é uma poderosa oportunidade para a Educação. Habilidades necessárias aos esportistas, como raciocinar, exercitar a memória e compreender situações, linguagens e estratégias ajudam na aprendizagem em sala de aula, mas os benefícios também são sociais e emocionais.
Diferente do que normalmente ocorre numa sala de aula, a prática esportiva chama a criança para se expor ativamente. Uma coisa é um aluno acima do peso ouvir um discurso sobre obesidade sentado na cadeira, outra participar de corrida. "Com o esporte, essa criança se expõe não só para o outro, mas para si mesma. Quando vive sua obesidade na prática, tem uma percepção mais clara dela", explica o professor João Batista Freire, livre docente pela Unicamp e referência em pedagogia da Educação Física.
Ao se mostrar e se posicionar, as crianças revelam a sua personalidade de maneira espontânea. Um garoto tímido pode explodir em um jogo e tornar-se agressivo. "A aprendizagem do esporte não é só física. É social e intrapessoal também", diz Paes. Ao conhecer melhor seus alunos, o educador tem a chance de intervir e propor maneiras para desenvolvê-los! "A expectativa é a de que, terminada a aula, esse aprendizado, que é sociomoral, emocional e cognitivo, transponha a quadra, o campo, a piscina, a pista e se incorpore na vida privada e pública do aluno", resume o professor do Departamento de Ciências do Esporte na Universidade Estadual de Londrina, Wilton Santana.
1. Aprender a trabalhar em equipe
Quando um grupo de pessoas têm metas e objetivos em comum, a melhor maneira de realizar o trabalho é em equipe. Com ajuda mútua, comprometimento de todos e troca de experiências, fica mais fácil chegar a uma solução bem sucedida. As pessoas que sabem trabalhar em equipe não centralizam as decisões, não são egoístas e sabem abrir mão de suas ideias se surgirem outras melhores no grupo.
É consenso entre os especialistas em Educação Física que trabalho em equipe é um dos princípios básicos do esporte. "A gente dá ênfase ao "fazer contra", mas o "fazer com" é mais importante. Cooperação e respeito são fundamentais", diz o professor da Faculdade de Educação Física da UNICAMP Roberto Rodrigues Paes.
Em uma partida de futebol, por exemplo, um jogador talentoso não é suficiente para garantir a vitória. "São necessários vários jogadores para um time funcionar. Não podemos centrar em só, porque é muito fácil marcá-lo e anulá-lo no jogo", diz o professor João Batista Freire. Para o autor de "Ensinar esporte, ensinando a viver"(Editora Mediação) e "Educação de Corpo Inteiro" (Editora Scipione), é decisivo saber renunciar no futebol. "Trabalhar em equipe é renunciar à coisa mais importante do jogo: a bola", explica. Se não trabalhar bem a bola, o time não consegue se livrar da marcação para criar oportunidades boas de gol.
E mesmo que todos os membros da equipe sejam individualmente talentosos, o trabalho em equipe continua imprescindível. O desempenho de uma equipe é diferente da simples soma de talentos individuais. Se uma equipe é composta por atletas impecáveis, mas que não conseguem trabalhar juntos para alcançar o objetivo comum, ela não conquistará bons resultados. "Uma equipe com espírito coletivo consegue superar a falta de alguma capacidade, mas uma ótima equipe que não se ajuda não consegue bons resultados mesmo sendo tecnicamente superior", resume Paes.
2. Lidar melhor com as derrotas
A vida não é feita apenas de vitórias - na verdade, na maioria das vezes, as derrotas são mais numerosas no caminho. Assim é também no esporte: em um campeonato com 10 times, apenas um sairá campeão. As outras nove equipes terão que amargar a derrota e aprender a partir dela. "A derrota mostra que nada cai do céu, que precisamos percorrer um longo caminho de preparo", diz o professor João Batista Freire. especialista em pedagogia da Educação Física.
É para isso que serve a famosa "rodinha" ao final do jogo. Treinador e equipe avaliam o que aconteceu e isso ajuda a descobrir em que áreas o time precisa melhorar. "Entender que perdemos porque não treinamos o bastante, porque ainda somos fracos, porque tivemos medo. Mas que com esforço e dedicação, a equipe pode se superar!", explica o professor João Batista Freire, especialista em pedagogia da Educação Física
3. Aprender a não se vangloriar
Assim como é preciso aprender com a derrota, é importante aprender a ganhar para que a equipe não fique excessivamente confiante e até arrogante. "Preciso entender que não sou melhor do que o outro apenas porque venci, apenas mostrei melhor preparação, joguei melhor, fiz mais gols" diz Freire.
Dar valor apenas para a parte competitiva do esporte, de que só importa ganhar, é ignorar uma série de aprendizados que a prática esportiva desenvolve. "A importância do aprendizado de valores e princípios inclui as pessoas que não têm tanta aptidão física, mas que podem - e devem - praticar esporte", diz o professor Roberto Rodrigues Paes, professor da Faculdade de Educação Física da UNICAMP. O importante é competir, sim, mas consigo mesmo. "A verdadeira vitória no esporte não é o resultado, mas conseguir ultrapassar seus próprios limites. Superar a si mesmo e não aos outros", diz.
4. Ter mais disciplina e responsabilidade
Se as regras que comandam o bom funcionamento e convívio de algum grupo não são seguidas por todos, o caos se instala. A vida em sociedade é cheia de exemplos que comprovam essa verdade: imagine se as regras de trânsito não fossem seguidas por todos os motoristas?
O esporte ensina a importância da disciplina para as crianças. Há punições quando o jogador comete qualquer infração, como agredir o adversário, desacatar ao juiz ou simplesmente desrespeitar regras simples, de como deve ser cobrado um escanteio, por exemplo.
A chamada conduta antidesportiva é reprimida de diversas maneiras. Além de impedir o jogador de atuar por algum período (de acordo com as regras do Campeonato Brasileiro de Futebol, por exemplo, 3 cartões amarelos suspendem o jogador por um jogo, assim como o cartão vermelho, que ainda expulsa o jogador da partida em que a falta grave foi cometida), as sanções disciplinares também incluem outras "vantagens" para o outro time, como concessão da posse de bola, cobrança de faltas ou de tiro livres diretos (como o pênalti, no futebol ou o lance livre, no basquete). "Um atleta pode sentir raiva e querer agredir um adversário, mas sabe também que isso é contra as regras e pode prejudicar sua equipe e a ele mesmo", diz o professor João Batista Freire, especialista em pedagogia da Educação Física.
Nos treinos, a disciplina também é necessária. Durante muito tempo, o talento foi visto como algo inato, que dependia de algum dom. "Na verdade, o talento está relacionado a um longo e qualitativo processo de envolvimento e interação com o esporte. Sem treino, sem talento", explica o professor do Departamento de Ciências do Esporte na Universidade Estadual de Londrina, Wilton Santana. Disciplina, foco, determinação e dedicação são fundamentais para que o atleta possa aprimorar seu desempenho e se superar a cada partida.
5. Desenvolver controle emocional
Um jogo é imprevisível. Quando se entra em campo, em quadra ou na piscina, o atleta não sabe se vai perder ou se vai ganhar. Essa tensão, que torna tão gostosa a sensação de vitória, também pode atrapalhar se for exagerada. Aqueles que conseguem controlar suas emoções se saem melhor.
Quando um jogador vai arremessar um lance livre no basquete, o equivalente ao "pênalti" no futebol, por exemplo, ele precisa controlar a ansiedade e administrar a possibilidade de erro. "É uma inteligência, existem pessoas que conseguem resultados excelentes nos treinos, mas nos jogos não conseguem, porque deixam o nervosismo tomar conta", afirma o professor da Unicamp Roberto Rodrigues Paes, que foi técnico de basquete durante 25 anos. É exatamente o que vemos acontecer com alunos que estudaram o ano todo, mas não conseguiram passar no vestibular - apesar das ótimas notas nos simulados. "Se o aluno estiver emocionalmente perturbado, o raciocínio necessário para as questões será prejudicado", diz o professor João Batista Freire, especialista em pedagogia da Educação Física.
O autocontrole também está ligado à capacidade de resistir aos impulsos e desejos tendo em vista objetivos a longo prazo, como não faltar à aula para ir ao cinema com os amigos.
É a mesma habilidade que impede o atleta de ser "fominha". Ele pode querer exercer suas habilidades individualmente, apenas para sua satisfação individual. "Quando aprende a controlar seus desejos, o atleta melhora sua performance e a de sua equipe, que depende dele", diz Freire.
6. Ter mais criatividade
A criatividade é a capacidade de inventar algo novo, que surpreeenda e faça a diferença. No futebol, a estratégia geral é trocar passes até que apareça a oportunidade para um chute a gol ou para fintar e levar a bola, de drible em drible, até o gol. "A maior parte das coisas é previsível, a criação é que dá graça no jogo", define o professor João Batista Freire, especialista em pedagogia da Educação Física.
O bom treino exercita habilidades técnicas básicas, como correr com a bola, dar um bom chute e um bom passe, mas os jogadores devem ser estimulados a resolver os problemas (sair de uma marcação cerrada, por exemplo) de maneira criativa. "Os melhores jogadores são criativos. Sócrates [ídolo e atacante do Corinthians entre as décadas de 70 e 80] por exemplo, era capaz de subitamente dar um passe de calcanhar que ninguém esperava, quebrando o esquema defensivo dos adversários , ou achar algum colega bem colocado e dar um passe perfeito. Ele era capaz de entender o jogo como um todo e perceber as coisas antes que acontecessem", descreve
7. Ser mais sociável
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Fonte: Educar para Crescer
A experiência de conviver com colegas mais gordos, mais altos, mais (ou menos) habilidosos ensina à criança a lidar com as diferenças e os conflitos. "A aprendizagem do esporte não é só física. É social e intrapessoal também", diz o professor Roberto Rodrigues Paes, professor da Faculdade de Educação Física da UNICAMP.
"Nenhum homem é uma ilha", escreveu o poeta inglês John Donne. A máxima também serve para o esporte. "Ninguém faz esporte sozinho. Se o outro não existisse, nem haveria jogo", diz o professor João Batista Freire, especialista em pedagogia da Educação Física. Se para viver em sociedade, precisamos aprender a nos expressar, sem nos impor sobre o outro, mas também sem deixar que ele nos oprima; no esporte, um jogador precisa ter coragem de ousar, de colocar para fora suas potencialidades, de exercer sem inibição suas habilidades. "Caso contrário, é como um ator que, enquanto não se solta, não atua direito", completa.
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