Diante da tragédia com o time da Chapecoense e jornalistas, veio à tona a seguinte questão: Como falar de morte com as crianças?
A morte é um assunto difícil de
entender até para os adultos. Para os pequenos é ainda mais confuso. Por isso,
eles precisam de todo o apoio e sinceridade nos momentos em que devem encarar a
perda de uma pessoa próxima. Especialistas explicam o que fazer ou não nessas
horas.
1. A partir de que idade se deve
falar de morte com as crianças?
Não existe idade certa para tocar no assunto. O ideal é que se espere a
necessidade, seja pelo falecimento de alguém conhecido ou a curiosidade do
pequeno. “Aos 4 ou 5 anos as crianças começam a entender as relações da vida e
a ter acesso maior às informações”, explica o coordenador do curso de
Tanatologia (Educação para a Morte) da Disciplina de Emergências Clínicas da
FMUSP, Franklin Santana Santos. O que se deve fazer é ir educando seu filho
através de exemplos práticos do ciclo da natureza. Semeie uma plantinha e vá
mostrando como ela nasce, cresce, adoece e morre. Aquele feijãozinho plantado
no algodão pode ser um ótimo aliado. Cantigas, livros infantis e filmes que
tratam do assunto também ajudam.
São três pontos que as crianças
precisam ir compreendendo com a sua ajuda: a universalidade – tudo que é vivo
um dia vai morrer –, a irreversabilidade – quando morre, não há volta – e a não
funcionabilidade – depois de morto, o ser não corre, não dorme, não pensa, não
age. “As crianças personificam a morte. Imaginam que ela seja uma figura da
qual podem escapar ou enganar. É preciso explicar que não é assim”, diz
Franklin.
2. Crianças podem ir a velórios
ou enterros?
Não se pode forçar, mas elas se beneficiam de participar junto aos adultos
deste ritual de passagem. “Explique direitinho o que é um velório e um enterro
e pergunte se ela quer ir. Mas nunca decida pela criança a deixá-la de fora”,
indica Silvana Rabello, professora do curso de psicologia da PUC-SP (Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo). Os rituais servem para que todos vivenciem
melhor a despedida, inclusive os pequenos. E não se preocupe: os especialistas
concordam que velórios e enterros não traumatizam as crianças.
3. Como contar para elas que
alguém que conhecem morreu?
Não esconda nada, muito menos invente histórias para poupar os pequenos. Frases
como “ele dormiu para sempre”, “descansou” ou “fez uma longa viagem” só vão
confundir a cabeça infantil. Crianças levam tudo ao pé da letra e podem achar
que a vovó vai acordar ou que todo mundo que viaja nunca volta.
É muito comum também usar a famosa “o vovô virou uma estrelinha”, que pode
levar a criança a acreditar nisso literalmente e ficar elaborando maneiras de
chegar até ele. “As crianças de até cerca de 10 anos não abstraem. O seu
psiquismo em construção não consegue captar os conceitos subjetivos. Elas
pensam de forma concreta e constroem os conceitos a partir do concreto”,
enfatiza Deusa Samú, psicóloga clínica especialista em luto.
4. E se a pessoa for muito
próxima?
Se a morte for por doença, a criança deve estar a par de todo o processo.
Explique que a pessoa está doente e que é grave, lembre do ciclo da vida da
plantinha. “Não fale de sopetão. Mas, quando acontecer, use sempre a palavra
‘morte’. Isso é bastante importante para que ela entenda”, ensina Franklin. Se
a morte for inesperada, é preciso ser direta e sincera. Abra espaço para tirar
todas as dúvidas que podem estar passando pela cabeça do pequeno. Não é
necessário esconder as emoções, mas observe se sua atitude não está
traumatizando as crianças.
A
morte de um animal de estimação também deve ser administrada com cuidado pelos
pais.
5. Quando
ela pergunta o que significa morrer, como explicar?
“Primeiro, elabore seus próprios conceitos sobre a morte e sobre a possível
continuidade da vida, porque só poderemos responder às crianças respeitando
nossa própria verdade”, aconselha Deusa.
Depois, explique que nem todos pensam como papai e mamãe. Dê as versões de
outras religiões, inclusive do ateísmo. Mais uma vez vem o conselho de todos os
especialistas: “seja honesta”. Nem sempre você terá todas as respostas. Que tal
dizer “não sei” e se propor a buscar as explicações junto com seu filho?
6. Qual a melhor forma de ajudar
a criança durante o luto?
Demonstre que, como ela, você
também está sofrendo e sente saudades. Deixe que a criança fale sobre seus
sentimentos e, acima de tudo, dê apoio e acolhimento. Garanta que ela nunca
estará sozinha e sempre haverá alguém para cuidar dela. Isso porque o ente que
se foi pode ser um dos pais ou o pequeno pode começar a pensar na mortalidade
deles. “Não exclua as crianças das
conversas, da tristeza. Ouça o que elas têm pra falar ou peça para que desenhem
o que estão sentindo”, indica Silvana. É natural que os pequenos apresentem
mudanças de comportamento depois que recebem a notícia da morte de alguém com
quem convivem. Além do choro e da raiva, alguns começam a ir mal na escola,
ficam hiperativos ou fazem xixi na cama. Considere a ajuda de um psicólogo e
até da escola. É importante que a criança sinta que tem o apoio e a atenção dos
colegas e dos professores.
Como acontece com os adultos, a memória afetiva nunca vai desaparecer.
Mas, depois de certo tempo, acontece o chamado luto saudável, quando se percebe
que é possível se lembrar do ente querido de forma leve e sem sofrimento.
A Equipe #Ctim é solidária aos familiares das vítimas desta tragédia! A todos, nosso carinho e orações!
Fonte: http://delas.ig.com.br/filhos/seis-respostas-como-falar-de-morte-com-as-criancas/n1237794785122.html (adaptado)